DEUS AGE SE NOS AGRADAMOS DELE

(Salmos 37:4) – Deleita-te também no
SENHOR, e te concederá os desejos
 do teu coração.

I-Aprendemos o que é de Deus se nos agradamos dEle Jó 27.10,11
II-Jó 34.9,10
III-1Pe. 4.8,9
IV-Jo. 15.7,8
V-1Jo. 5.14,15
VI-Jó 22.26,27
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O que significa pensar como um cristão?

Autor: Guilherme Carvalho

Quando comecei, há pouco tempo, a falar a respeito da necessidade de reformarmos a mente evangélica, a primeira reação das pessoas foi de estranhamento. Houve também respostas positivas – até começamos o NEC! Mesmo assim, a maioria dos cristãos sabe muito pouco a respeito do pensamento reformacional (1). Minha intenção nesse breve artigo é apresentar as atitudes mentais básicas que caracterizam o modo de pensar que chamamos de reformacional, bem como aquelas que precisaremos abandonar, se queremos ter um pensamento genuinamente cristão. Embora existam várias escolas no pensamento reformado, vamos nos deter nos pontos fundamentais, que são comuns a todas.

Comecemos com o famoso imperativo paulino em Rm 12.1: “não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”. O cristianismo implica em transformação – todo cristão reconhece isto. O cristianismo não se realiza apenas na experiência religiosa, mas na práxis religiosa, na existência transformada pela fé. O que nem todos percebem é que essa transformação cristã exige uma atividade mental especial, a “renovação da mente”, e a aquisição de um modo cristão de ver as coisas distinto e singular. Mas a aquisição da mente cristã não é algo automático. Se você é cristão, dizemos que você já tem a mente de Cristo; mas isso não significa que Cristo já tem a sua mente. A mente cristã é fruto de um processo contínuo de renovação que necessariamente envolverá atividade crítica e mudança de paradigmas.

A mente renovada não envolve somente uma atitude pessoal ou uma postura ética elevada, mas também a alteração do ponto de partida e do método para a compreensão da realidade que está, queiramos ou não, na base da nossa ação concreta. Isso significa que a mente cristã é uma mente que opera de forma consistente com a visão cristã de mundo.

A. Atitudes Mentais a Serem Adquiridas

1. Conheça a si mesmo

Na entrada do oráculo de Delfos havia uma inscrição: “conhece-te a ti mesmo”. Sócrates, referindo-se a essa expressão, disse certa vez: “a alma nos ordena conhecer aquele que nos adverte: Conhece-te a ti mesmo”. Um dos temas centrais do pensamento de Sócrates era a descoberta da “essência” do homem, que para ele se encontrava na alma racional.(2) Séculos mais tarde Santo Agostinho nos ajudaria a conhecer a resposta cristã a essa pergunta tão importante: “fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti.”(3) Para ele a essência do homem não é uma alma racional, mas uma orientação da vontade, como um rio que corre para o mar:

Contrariamente aos filósofos gregos, Agostinho insistia que conhecer a verdade não é necessariamente fazer a verdade, pois a natureza essencial do ser humano não é a razão mas a vontade. O ser humano é criado de tal forma que não tem outra escolha que não amar, orientar seu ser para algum objeto, princípio, pessoa, com total devoção. O objeto supremo querido por cada pessoa caracteriza seu ser total, dando-lhe suas pressuposições, motivações, razões, vitalidade e objetivo. Não há ser humano sem tal fé, ‘religião’, ‘Deus’. Não se raciocina para tal objeto, mas se raciocina a partir dele.” (4)

Por isso para Agostinho o autoconhecimento estava ligado ao conhecimento de Deus,(5) e esse conhecimento não poderia ser obtido sem a influência divina na vontade e a prática da verdade.(6) Mais de mil anos depois Calvino diria: “… pelo conhecimento de si mesmo é cada um não apenas aguilhoado a buscar a Deus, mas até como que pela mão conduzido a achá-lo. Por outro lado, é notório que jamais chega ao homem ao puro conhecimento de si mesmo até que haja antes contemplado a face de Deus e da visão dEle desça a examinar-se a si próprio.”(7)

Chegamos assim à concepção que eu chamaria socrática-agostiniana-calvinista de filosofia: o homem só pode realmente chegar a um conhecimento verdadeiro do mundo se obtiver um conhecimento crítico de si mesmo, e esse conhecimento de si é o conhecimento de sua orientação religiosa fundamental em direção a Deus. Descobrindo em seu próprio coração o ponto de partida religioso de toda a sua existência o homem é confrontado com a necessidade de adorar, unir-se e realizar-se a partir da realidade última, seja ela o que for. É assim, no coração, que o homem se perde em algum ídolo ou se encontra em Deus.

A consciência do ponto de partida religioso de todo pensamento esteve quase ausente do pensamento ocidental até o princípio do século XX. Os pensadores ocidentais sempre estiveram dispostos a praticar a crítica das idéias. A crítica chegou a um ponto elevado quando Kant questionou o realismo ingênuo demonstrando que toda atividade cognoscitiva é uma síntese de “a prioris” mentais com os dados empíricos. Mas tarde o historicismo apontou o condicionamento histórico das idéias – Marx, por exemplo, considerava as idéias como produtos da situação econômica vigente. Freud mostrou como o subconsciente se introduz em todas as nossas atividades e pensamentos. Muitos outros exemplos de crítica poderiam ser apontados.

Mas parece que em nenhum desses modelos de criticismo foi jamais lançada a questão da autonomia da razão, aceitando-se tacitamente a solução socrática. Na verdade, essa autonomia foi sempre pressuposta como a única condição incorrigível e capaz de conferir ao pensamento o status de crítica. No princípio do século XX os pensadores reformados começaram a chamar o pensamento ocidental para prestar contas sobre o dogma da autonomia da razão, e a responder à questão específica: como o pensamento moderno constrói seu ponto de referência a partir do qual dá sentido à realidade? Herman Dooyeweerd chamava isso de “ponto arquimedeano”. Arquimedes se tornou famoso por dizer que se lhe dessem um ponto fixo, poderia mover o mundo usando uma alavanca. Dizemos assim que todo pensamento tem um ponto arquimedeano, o ponto fixo no qual as coisas tem a sua origem e recebem significado.

A questão aqui é se a visão cristã de mundo de fato controla o seu pensamento desde o princípio ou não. Por exemplo, se você crê em Jesus, mas crê também que todas as realidades do mundo podem ser explicadas a partir de um conjunto de leis físicas simples nós temos um problema. Tendo a perspectiva cristã como ponto de partida, você será levado a tratar a realidade como algo complexo e irredutível. A crença de que poucas leis ou uma única lei pode dar conta de tudo é parte de outra cosmovisão, o naturalismo filosófico, que exclui a visão cristã.

Muitos exemplos desse tipo de incoerência poderiam ser indicados. Na teologia por exemplo, encontramos aqueles que crêem em Jesus mas procuram interpretar a Bíblia excluindo em princípio qualquer posição doutrinária – como a inspiração bíblica – para salvaguardar a “neutralidade” de seu pensamento. Nesse caso a única coisa que é protegida é o dogma da autonomia do pensamento teórico.

A influência das pressuposições em nosso pensamento pode ser ilustrada pelas palavras de Einstein: “Sem a crença de que é possível entender a realidade com as nossas construções teóricas, sem a crença na harmonia interior do mundo, não pode haver ciência. Esta crença tem sido e sempre será o motivo básico para toda criação científica.”(8) Ao contrário do que muitos pensam, essas crenças não são algo universal nem óbvio, e essa é a razão porque a ciência empírica se desenvolveu justamente na cultura ocidental cristã.

Todo pensamento tem pressuposições, e essas pressuposições tem outras pressuposições, e assim por diante, mas não ad infinitum. Se seguirmos esse caminho até o princípio chegaremos a um conjunto de crenças fundamentais que não se fundamentam em nenhuma crença, mas que expressam a orientação fundamental do indivíduo, que poderíamos chamar de existencial, espiritual ou religiosa. É por isso que o dogma da razão autônoma é inconsistente – a própria divinização da racionalidade que ele implica não tem justificação racional. Simplesmente não é possível pensar a partir de um ponto neutro e então concluir com a fé, porque toda razão nasce a partir da fé.

Um caminho para identificar o ponto arquimedeano em qualquer teoria ou visão da realidade é fazer duas perguntas simples. A primeira é: qual é a pressuposição “imexível” desse pensamento? Ou seja: qual é o “ponto fixo” que faz tudo girar em torno dele? No seu caso, você deve perguntar: eu tenho um ponto fixo em meu pensamento que seja distinto de Jesus Cristo? A segunda pergunta é: como esse ponto fixo confere a mim identidade e autocompreensão? Ou: como esse ponto influencia a atitude que tenho para comigo mesmo e para com o mundo?

Chegamos então, de novo à pergunta inicial: temos autoconhecimento? Não se trata aqui de ter um autoconhecimento exaustivo, mas um autoconhecimento verdadeiro, ainda que elementar. A posição cristã é de que nós temos o autoconhecimento porque sabemos que nada somos sem Deus, e temos encontrado repouso nele; e assim, conhecendo-o no evangelho somos homens. Mas aquele que não conhece sua orientação religiosa fundamental jamais atingirá o autoconhecimento, pois não pode saber porquê é quem é, nem porque pensa como pensa, nem que é e pensa a partir de um ídolo. Para este, não haverá repouso.

2. Pense Antiteticamente

A resposta cristã à pergunta pelo autoconhecimento nos leva à questão da antítese. Em diversas ocasiões tentou-se sintetizar o pensamento cristão com outras visões de mundo. Esse é o caso do platonismo cristão no período patrístico, da filosofia tomista, da teologia liberal ou da teologia da libertação. O que se pressupõe nessas tentativas é que a natureza pode operar adequadamente sem a necessidade de um controle da fé, e assim sistemas compostos sem ter a fé em Cristo como ponto de partida poderiam ser verdadeiros. Mas resultado nessas sínteses foram soluções dualistas e distorções inevitáveis da fé cristã.

Essas sínteses não poderiam ser bem sucedidas uma vez que a direção de cada mentalidade é dada por seu ponto de partida religioso, e os pontos de partida são sempre absolutos. Conceitos relativos podem ser sintetizados, mas pontos de partida absolutos e contrários são mutuamente excludentes. Sistemas com pontos arquimedeanos diferentes permanecem numa oposição insolvível e mesmo que contenham idéias verdadeiras que podem ser compartilhadas até certo ponto, são estruturalmente incompatíveis.(9) Linhas paralelas nunca se tocam.

Na verdade a oposição entre sistemas distintos é a oposição entre modos distintos de vida religiosa, pois o ponto de partida religioso do pensamento é o ponto de partida de toda a existência. Assim, o cristianismo é um modo de existência singular e fundamentalmente oposto aos modos de existência que tem como ponto de partida algum ídolo. Dizemos que há uma antítese absoluta entre a mente cristã e as mentes idólatras. Santo Agostinho falava da Civitas Dei numa oposição sem fim à Civitas Mundi. A cidade de Deus é a igreja, uma cidade que existe hoje, “sobre o monte”, e que funciona tendo Deus como centro. A cidade do homem é Babel, e seus cidadãos constróem sua identidade e sua cultura a partir da absolutização de alguma realidade do cosmo. Embora essas duas cidades estejam atualmente misturadas, são contrárias, tendo pontos de partida contrários, e projetos de civilização contrários: “Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou.”(10)

Se queremos vencer o mundo, precisamos assumir uma posição antitética. “Não ameis o mundo”, disse João.(11) O autoconhecimento nos leva naturalmente a compreender natureza irreconciliável da tensão entre a Civitas Dei e a Civitas Mundi, e a aceitar a cruz de Cristo permanecendo no mundo, mas contra mundum. (12) Assumir a posição antitética é obedecer ao imperativo paulino: “Não vos conformeis com este século.” Somente o posicionamento corajoso e integral pela fé cristã pode nos libertar do molde de existência imposto a nós pela Civitas Mundi, e esse posicionamento exige o pensamento antitético e o desafio consistente da mente do mundo desde as suas raízes. Como disse Kuyper cem anos atrás:

O Cristianismo está exposto a grandes e sérios perigos. Dois sistemas de vida estão em combate mortal. O Modernismo está comprometido em construir um mundo próprio a partir de elementos do homem natural, e a construir o próprio homem a partir de elementos da natureza; enquanto que, por outro lado, todos aqueles que reverentemente humilham-se diante de Cristo e o adoram como o Filho do Deus vivo, e o próprio Deus, estão resolvidos a salvar a herança cristã … Desde o início, portanto, tenho sempre dito a mim mesmo, – ‘Se o combate deve ser travado com honra e com esperança de vitória, então, princípio deve ser ordenado contra princípio. A seguir, deve ser sentido que no Modernismo, a imensa energia de um abrangente sistema de vida nos ataca; depois também, deve ser entendido que temos de assumir nossa posição em um sistema de vida de poder, igualmente abrangente e extenso. E este poderoso sistema de vida não deve ser inventado nem formulado por nós mesmos, mas deve ser tomado e aplicado como se apresenta na História.” (13)

Séculos depois do cristianismo protestante ter sido submerso pelas vagas da modernidade, o clamor pelo retorno da igreja à sua missão foi novamente ouvido em Groen Van Prinsteren e depois em Kuyper, e está sendo ouvido agora. A posição genuinamente cristã em relação ao mundo é a posição antitética, e o pensamento genuinamente cristão é o pensamento antitético.(14) Mas o que seria exatamente tal pensamento?

Trata-se simplesmente de pensar o mundo de forma coerente, a partir da fé, e então pensar as mentes incrédulas a partir dessa mesma fé. Podemos nos lembrar aqui das palavras de Paulo em 1Coríntios 2.14-16. Pensar antiteticamente seria assumir a mente de Cristo e discernir todas as coisas por meio do evangelho. É claro que o homem natural não aceitará nossos pensamentos, porque ele não poderá entendê-los; por outro lado, nós poderemos discernir todas as coisas, mesmo que sejamos um mistério incompreensível para eles. Mas se não praticarmos esse discernimento, seremos para sempre crianças, andando segundo os homens.(15)

Ao pensar antiteticamente, examinamos os pensamentos dos incrédulos até às suas raízes religiosas, e observamos os efeitos malignos dessas raízes em sua produção cultural e em suas existências individuais. Examinamos também os problemas contemplados pelos pensamentos dos incrédulos a partir de nossa fé, e damos forma assim à resposta cristã a esses problemas libertando-nos de forma consciente e decidida da tirania do “príncipe da potestade do ar.”(16) Assim, pensar antiteticamente é descobrir exatamente em que ponto o pensar cristão é irredutívelmente distinto do pensar não cristão, ordenando princípio contra princípio, mente contra mente, civitas contra civitas. Todos os cristãos, mas especialmente aqueles envolvidos com educação e produção de conhecimento devem sujeitar os conceitos e teorias de seu próprio campo à análise antitética.

3. Pense Reformacionalmente

O pensamento antitético não é meramente uma atividade destrutiva. É antes a preparação do terreno para uma atividade positiva de construção. O pensamento reformado sempre enfatizou o lugar da criação na mente cristã, e a tarefa que Deus deu ao homem no princípio de tudo, o mandato cultural.(17) O homem foi posto no mundo para manifestar a imagem de Deus por meio da atividade cultural, desvelando os potenciais presentes na criação no serviço ao próximo para a glória de Deus. A produção cultural é fruto do mandamento de Deus.

A queda tornou essa produção cultural idólatra, destrutiva para a criação e para o próprio homem, mas não a tornou impossível. Por causa da graça comum, Deus impede que o pecado tenha seu efeito total sobre o homem, conferindo-lhe a possibilidade de viver em sociedade e cumprir o mandato cultural por meio da arte, da filosofia, da ciência, da política, e de toda a sua produção cultural. Mesmo assim, toda essa produção é orientada contra Deus.

O cristão, no entanto, está numa posição muito especial. Como qualquer homem, ele pode e deve cumprir o mandato cultural; mas o pecado não tem sobre ele a mesma influência que tem sobre o homem natural. Ele recebeu a revelação de Deus em Cristo pelo Espírito, e participou da palingênese,(18) a restauração de todas as coisas por meio de Cristo, recebendo assim novos olhos, para ver o mundo na perspectiva divina. Assim ele não atua sobre o mundo apenas com o auxílio da graça comum, mas também da graça especial, manifestando em sua própria produção cultural os efeitos da palingênese, mesmo que de forma imperfeita.(19)

Isso significa, em primeiro lugar, que o cristão tem dever de produzir cultura. O pensar cristão deve ser criativo, propondo soluções originais para os problemas teóricos e construindo uma cultura cristã. Por outro lado o cristão não deve “sair do mundo”, pois Jesus nos enviou ao mundo, para viver no mundo.(20)

Assim, o cristão deve não apenas produzir, mas também reformar. A finalidade do pensamento antitético é tornar possível a reforma, que é a expressão provisória da graça no mundo, até à consumação. Por isso, o pensar cristão é criativo e reformacional. Criticamos sim, até às raízes, a mente do mundo, e denunciamos a sua apostasia, mas reaproveitamos todos os vislumbres de verdade que ela produziu na construção do modo cristão de pensar e viver. Buscamos manter um processo permanente de reforma de nosso pensar e de nossa vida cultural, de forma a mantê-la coerente com o evangelho.

Ao pensar reformacionalmente reconhecemos que toda produção cultural humana se fundamenta na graça comum e nos apropriamos dessa produção cultural buscando sua conversão estrutural de forma que ela reflita a nossa fé em Deus. Pensar reformacionalmente é assumir uma atitude positiva em relação à cultura, agindo redentivamente no meio dela ao cumprir o mandato cultural com a força renovada do evangelho. Pensando reformacionalmente, poderemos construir uma mente cristã, sólida, rica, profunda, contextualizada e abrangente, que dará respaldo teórico ao grande projeto cultural reformado: a revelação histórica da Civitas Dei.

B. Atitudes Mentais a Serem Abandonadas

1. Compartimentalização

A compartimentalização ocorre quando um cristão não consegue aceitar que o evangelho, no qual crê, esteja em contradição com um valor ou uma idéia consensual do meio em que vive. Quando isso acontece o indivíduo impede conscientemente ou não o choque dessas idéias tratando a fé e seu oposto como pertencendo a planos diferentes de realidade, separando-os assim em “compartimentos” mentais. É o caso muitas vezes de cristãos que aceitam explicações naturalistas para a origem do homem, ou que aceitam o relativismo cultural como uma realidade antropológica, afirmando simultanteamente a visão bíblica do homem. Geralmente, em casos como esses, a possibilidade de reconhecer o choque das idéias e a necessidade de escolher entre elas parece emocionalmente insuportável à pessoa, que acaba optando por uma compartimentalização artificial.

O problema é que a compartimentalização é epistemologicamente falha. Não há planos de realidade; idéias contrárias não podem ser simultâneamente verdadeiras – a não ser, é claro, que sejam modelos provisórios da realidade; mas nesse caso, nenhuma delas é rigorosamente verdadeira!(21)

A compartimentalização é ainda emasculadora para o evangelho. Ela retira dele todo o poder para corrigir nosso pensamento, uma vez que o bane para uma dimensão mística da alma; ela abre amplas janelas em nossa mente para a secularização total da existência. Na compartimentalização as idéias cristãs são convenientemente guardadas em gaiolas e a mente se torna um tipo de zoológico no qual as verdades evangélicas são expostas como curiosidades e mesmo um leão é absolutamente inofensivo. O remédio à compartimentalização é simples: abra as gaiolas!

2. Irracionalismo Místico

Parece-me que a maior parte dos casos de compartimentalização envolvem uma interpretação mística do cristianismo. O indivíduo acredita que não há conflito entre fé e razão simplesmente porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. A religião é algo místico, relativo aos sentimentos e experiências sobrenaturais, sendo inacessível ao pensamento racional. O irracionalismo religioso tende a considerar a reflexão teológica uma atividade perniciosa.

3. Fundamentalismo

Há os que solucionam a tensão refugiando-se numa interpretação fundamentalista do cristianismo e denunciando o pensamento filosófico como inútil – outro tipo “piedoso” de compartimentalização. No obscurantismo fundamentalista a fé desiste de buscar compreensão e se fecha totalmente para a pesquisa científica e para o pensamento teórico, como se essas fossem atividades vãs. O fundamentalismo não nega totalmente que a fé tenha uma dimensão racional, mas não está disposto a permitir que suas idéias religiosas sejam revisadas e até corrigidas com o auxílio das descobertas científicas e do pensamento crítico do homem, identificando uma determinada expressão histórica do evangelho com o próprio evangelho. Essa identificação impede que o evangelho seja re-contextualizado para outras culturas e outras situações históricas. É um absolutização da tradição que inibe o progresso das idéias.

4. Racionalismo Religioso

No outro extremo do espectro temos os que absolutizam a ciência e o pensamento crítico, fechando-o à crítica religiosa – um tipo de compartimentalização humanista. Nessa perspectiva todas as crenças religiosas devem passar pelo crivo da razão filosófica ou científica para serem aceitas. Essa perspectiva, que pode ser chamada de racionalismo religioso, está em oposição ao irracionalismo místico por admitir que a religião esteja dentro do alcance da razão, e se opõe ao fundamentalismo pelo dogmatismo que este apresenta. Exemplos de racionalismo religioso são o evidencialismo, que exige provas para a fé em Deus e a teologia liberal, que rejeita as crenças cristãs fundamentais consideradas contrárias à razão filosófica, como a divindade de Jesus, e a autoridade da Bíblia. Podemos dizer que o racionalismo religioso é um tipo de fundamentalismo humanista.

5. Cientismo

O Cientismo é uma atitude que pode conviver tanto com o racionalismo religioso como com o irracionalismo místico. Nessa atitude considera-se que a ciência lida apenas com fatos. Os bruta facta com os quais a ciência lida garantem que suas conclusões sejam neutras. Supondo a neutralidade do pensamento teórico, considera a ciência incorrigível em relação à filosofia e à religião, e apta como aferidor certo da verdade em toda a vida humana. Esse tipo de atitude tem sido consistentemente rejeitada por filósofos da ciência como Thomas Kuhn e Michael Polanyi,(22) sendo seu erro principal a aceitação de um realismo ingênuo, segundo o qual se acredita que as teorias sobre a realidade são produtos diretos da observação e da indução, sem qualquer influência decisiva de pressuposições religiosas, filosóficas, políticas, etc. O cientismo tem por isso o efeito deletério de manter os indivíduos, e muitas vezes os próprios cientistas, num estado de alienação, inconscientes das conexões sociais, políticas e principalmente, religiosas de seu trabalho. O cientismo é incompatível com a perspectiva cristã de que toda a atividade humana é intrinsecamente religiosa, sofrendo assim de falta de autoconhecimento, impedindo o pensamento antitético e a reforma das idéias.

6. Escolasticismo Sintético

Há os que conhecem os perigos do cientismo e do obscurantismo, e buscam estimular o diálogo entre a fé cristã e o pensamento não cristão. Roy Clouser usa o termo “escolasticismo” para designar “… a estratégia de compreender a relação da crença religiosa com a razão dividindo as crenças em duas classes: crenças que são produto da razão e crenças que são produtos da revelação e recebidas pela fé.”(23) Na solução escolástica garante-se a autonomia à razão filosófica e científica, mas a fé exerce um controle doutrinário externo, para corrigir conclusões no caso de erro da razão.

Geralmente os evangélicos praticam esse tipo de acomodação entre as doutrinas bíblicas e as teorias seculares. No prefácio do livro de Dan Blazer, Freud versus Deus, Uriel Heckert, presidente do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos faz o seguinte comentário: “Através dessa associação, buscamos promover o diálogo entre as ciências psi e a fé cristã, sem subordinação de uma a outra. Acreditamos que toda verdade, venha ela da investigação científica ou da revelação bíblica, provém do mesmo Deus.”(24) Como fica claro, para ele a fé cristã pertence a um plano distinto da ciência. Um exemplo acabado de compartimentalização.

O escolasticismo apresenta grandes vantagens sobre as outras atitudes, na medida em que admite um diálogo real entre a teologia cristã e o pensamento teórico em geral. De fato o controle externo da fé nos ajuda a perceber quando o pensamento teórico está invadindo um campo que não é dele e dando forma à fé. Mas essa solução é insuficiente pois ainda admite a autonomia da razão e desconhece o ponto de partida religioso do pensamento teórico. O escolasticismo ignora a necessidade de uma reforma interna da razão teórica, conduzindo-nos inevitavelmente a uma acomodação artificial da fé cristã com teorias não cristãs.

Essa perspectiva, que também podemos chamar de complementarismo acaba por nos levar à síntese, como foi o caminho da igreja católica.(25) Na abordagem sintética busca-se contextualizar as idéias cristãs a um sistema de pensamento diferente, de forma que a verdade cristã reapareça dentro das categorias daquele pensamento. É assim que Tomás de Aquino buscou acomodar a fé Cristã ao aristotelismo, e vice e versa, produzindo um pensamento “híbrido.” Como todos sabem, o custo dessa operação para o cristianismo foi altíssimo. Nessa perspectiva, não há uma transformação radical no pensamento não cristão e o poder do evangelho não pode ser totalmente revelado.

7. O que essas posições tem em comum?

Basicamente, o que todas essas posições tem em comum é a manutenção da autonomia da razão. Em todas elas a racionalidade ou a fé são “salvas” por meio de uma compartimentalização seguida ou não de um complementarismo. Essas atitudes são assim, num sentido profundo, acríticas, pois não descem até à raiz da questão, que é o problema do ponto arquimedeano do pensamento. Somente a solução radicalmente bíblica do pensamento reformacional desce a tal ponto tornando possível a reforma interna do pensamento teórico para torná-lo, de fato, um pensamento cristão.

C. Conclusão: Pensando Como um Cristão

Quando falamos a respeito da necessidade de um pensamento reformado, é comum ouvirmos algo como: “Mas existe mesmo tal necessidade? Nós não devemos simplesmente ‘pensar corretamente’?” Esse tipo de mentalidade é um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento da tradição intelectual reformada, e deve ser combatido por todos nós.

A mente evangélica vive hoje entre os pólos do secularismo e o teologismo. O pensamento evangélico precisa amadurecer, ultrapassando as barreiras da reflexão teológica e se tornando multidisciplinar; mas esse trabalho não pode ser feito por teólogos. Cada um pode começar refletindo reformacionalmente sobre o seu próprio campo de estudos.

Mas é claro que o projeto de uma erudição evangélica não pode ser levado adiante por poucas pessoas. Daí a necessidade de educadores, pesquisadores e pensadores evangélicos se associarem e promoverem não só a compreensão séria da tradição cristã reformada, mas também a reforma da tradição intelectual ocidental. Um trabalho que certamente exigirá um grande fôlego mental, mas que deve ser feito, se queremos ser evangélicos realmente coerentes.

Notas

(1) Proposta de reforma do pensamento teórico surgida ao final do século XIX entre os neo-calvinistas holandeses, cuja figura principal foi Abraham Kuyper.
(2) Curiosamente, parece que o Deus supremo era, para Sócrates, a mente ou a inteligência infinita.
(3) Santo Agostinho, Confissões, Livro 1, cap. 1:1. São Paulo: Paulus, 1997, p. 19.
(4) Ricardo Quadros Gouvea, Paixão pelo Paradoxo: Uma Introdução a Kierkegaard. São Paulo: Novo Século, 2000, p. 169,170.
(5) Confissões, p. 115.
(6) Ibid, p. 269.
(7) João Calvino, As Institutas, vol 1, cap. 1. São Paulo, CEP, 1985, p. 54.
(8) Citado por Vinotn Ramachandra, A Falência dos Deuses. São Paulo: ABU, 1996, p. 184.
(9) Ver os comentários de Ricardo Gouvea a respeito do pensamento antitético de Dooyeweerd em Paixão pelo Paradoxo, p. 174-177.
(10) João 17.14.
(11) 1João 2.15.
(12) Cf. João 17.15; 1Jo 5.4.
(13) Abraham Kuyper, Calvinismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 19.
(14) Contrariamente ao pensamento católico ou ao escolasticismo protestante, que tem natureza sintética, acomodando o cristianismo a sistemas filosóficos “seculares”.
(15) 1Coríntios 3.1ss.
(16) Efésios 2.2ss.
(17) Para saber mais sobre a aliança da criação e o mandato cultural, cf. O Cristo dos Pactos, de O. Palmer Robertson, Campinas, LPC, 1997, p. 61-79.
(18) Do grego palingenésis, que significa regeneração ou recriação.
(19) Porque a redenção é uma realidade ainda incompleta, até que o reino de Deus seja consumado.
(20) Jo 17.15-18.
(21) Nos referimos aqui, é claro, a qualquer realidade do cosmo; isso não se aplicaria da mesma forma a uma expressão teológica referente ao ser de Deus e a seus atos.
(22) Para uma crítica do cientismo e da neutralidade religiosa, cf. A Falência dos Deus, cap. 6 (“Ciência e Anticiência”) e cap 7 (“Ídolos da Razão e do Irracional”), p. 176-249.
(23) Roy Clouser, The Myth of Religious Neutrality. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 1991, p. 83.
(24) Dan Blazer, Freud Versus Deus. Viçosa: Ultimato, 2002, p. 18. O livro de Blazer é, a meu ver, um exemplo de falta de consciência pressuposicional.
(25) É claro que no pensamento reformacional também se realiza algum tipo de apropriação de idéias de origem não cristã; mas essa síntese nunca é feita sem a crítica pressuposicional e a reforma estrutural daquelas idéias.

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DEVEMOS RECEBER A DEUS HOJE

Lucas 19:5-6 E quando Jesus chegou àquele lugar, olhando
 para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque
hoje me convém pousar em tua casa.
E, apressando-se, desceu, e recebeu-o alegremente.

I-Sempre teremos duvida se não recebemos Mt. 9.10,11
II-Teremos quem nos Ajuda se Recebemos a Deus Lc. 5.30,31
III-Lc. 3.14,15
IV-Rm. 11.12,13
V-Gl. 3.7,8
VI-Lc. 3.16,17
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DEVEMOS CONHECER O JUÍZO DE DEUS

(Apocalipse 19:2) – Porque verdadeiros e justos
 são os seus juízos, pois julgou a grande prostituta,
que havia corrompido a terra com a sua prostituição,
e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos.

I-Sabemos o que é espiritual se conhecemos Rm. 11.33,34
II-Poderemos estar Aliviados se conhecemos Mt. 11.27,28
III-Romanos 1.19,20
IV-1Corintios 2.10,11
V- Efésios 1.17,18
VI-Colossenses 1.10,11
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NÃO DEVEMOS VACILAR

(Salmos 13:4) – Para que o meu inimigo
não diga: Prevaleci contra ele; e os meus
adversários não se alegrem, vindo eu a
 vacilar.

I-Não poderemos ter descanso se somos vacilantes Jó 12.5,6
II-Mt. 25.2,3
III-Lc. 8.6,7
IV-Jo. 2.6,7
V-Lc. 9.17,18
VI-Pv. 31.13,14
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O valor de honrarmos a Deus

(I Timóteo 1:17) – Ora, ao Rei dos séculos,
imortal, invisível, ao único Deus sábio,
seja honra e glória para todo o sempre.
 Amém.

I-Muitos estarão abandonados se não honram a Deus Romanos 1.25,26
II-Poderemos ser Valorizados por Deus se O honramos 1Co. 12.23.24
III-1Pedro 1.7,8
IV-1Timóteo 5.3,4
V-1Timóteo 6.16,17
VI-2Timóteo 2.20,21
Biblia Almeida Revista e Corrigida
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O QUE DEVEMOS FAZER SE TEMOS O QUE É MAU?

Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. (Mt. 11:28-28).

I- Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou.
 Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes. (Jo. 13:16-17).

II- De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
 Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, (Fp. 2:5-6).

III- Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas.
 O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. (1Pe. 2:21-22).
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IV- Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou.
 Irmãos, não vos escrevo mandamento novo, mas o mandamento antigo, que desde o princípio tivestes. Este mandamento antigo é a palavra que desde o princípio ouvistes. (1Jo. 2:6-7).
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V- Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu rei virá a ti, justo e salvo, pobre, e montado sobre um jumento, e sobre um jumentinho, filho de jumenta.
 E de Efraim destruirei os carros, e de Jerusalém os cavalos; e o arco de guerra será destruído, e ele anunciará paz aos gentios; e o seu domínio se estenderá de mar a mar, e desde o rio até às extremidades da terra. (Zc. 9:9-10).

VI- Assim diz o SENHOR: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos nele.
 Também pus atalaias sobre vós, dizendo: Estai atentos ao som da trombeta; mas dizem: Não escutaremos. (Jr. 6:16-17).
Biblia SBTB Revista e Corrigida
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POR QUE NADA É IMPOSSÍVEL PARA O HOMEM?

E Jesus lhes disse: Por causa de vossa pouca fé; porque em
verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de
mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá,
e há de passar; e nada vos será impossível. (Mt. 17:20-20)

I-SEMPRE TEREMOS POSSIBILIDADES SE TEMOS FÉ(Hb. 11:6-7)
II-DEUS SEMPRE AGE SE NÃO TEMOS IMPOSSIBILIDADES(Hb. 10:4-5)
III-NÃO TEMOS O IMPOSSÍVEL SE ESPERAMOS EM DEUS(Hb. 6:18-19)
IV-TEREMOS O QUE VEM ADIANTE SEM TER O IMPOSSÍVEL(Hb. 6:4-5)
V-NÃO TEMOS O IMPOSSÍVEL SE ANDAMOS PELO ESPÍRITO(Rm. 8:3-4)
VI-NÃO TEREMOS O BEM SE MERECEMOS O IMPOSSÍVEL(Lc. 17:1-2)
VII-NADA SERÁ IMPOSSÍOVEL SE SEGUIMOS A JESUS(Mc. 10:27-28)

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